sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O ensinamento na dor

Há dois dias atrás, estava eu sentada no sofá da sala assistindo tevê quando meu pai resolveu pegar o telefone para ligar para uma de suas irmãs.
Há exatos vinte e oito dias, uma delas falecera. Era a irmã mais querida de meu pai, a tia preferida de todos os sobrinhos e aquela que estava do meu lado nesse momento difícil que venho passando desde antes de sua perda.
Estamos todos muitos desolados e sem conseguir compreender bem como alguém tão jovem, tão cheia de vida pôde partir, assim, de maneira tão precoce deixando-nos órfãos de alegria, de entusiasmo, de tão grande afeto, de parte de nós mesmos.
Minha família nunca foi das mais unidas. A única pessoa da família com quem meu pai sempre falou diariamente é minha avó. E, mesmo assim, sempre reclamando de seu jeito pessimista e um tanto quanto negativo ao desligar o telefone. Meus tios e meu pai nunca foram muito amorosos uns com os outros. Há alguns anos vêm sendo intolerantes, inclusive, visto que são de religiões distintas. A única que sempre se preocupou em estar perto de todos, amar a todos independente das diferenças e fazer a união da família foi aquela que hoje já não está mais no meio de nós, seres-humanos.
Naquele momento doloroso e inesquecível de despedida, perguntei à minha mãe como seria essa família daqui pra frente, como seriam as relações entre meus tios e meu pai, visto que minha tia não estaria mais aqui para continuar realizando seu papel no meio deles.
As horas quase eternas daquele dia foram passando... Eu via meus tios e meu pai caírem quase desmaiados, sem controle de seus corpos trêmulos, de suas vistas turvas, de seus corações dilacerados. Nada muito diferente acontecia conosco, filhos deles, mas, de certa forma, nossa dor não era a deles. A cena que eu via era dos quatro caindo, porém cada um no seu canto. Enquanto nós, primos, caímos nos segurando uns nos outros, eles caiam sozinhos, esperando que seus filhos e cônjuges estivessem por perto a fim de ajudá-los. Essas cenas me cortavam ainda mais.
Chegado o momento de rezarmos juntos foi que tive minha primeira surpresa. Nós, mãe, irmãos, sobrinhos e cunhadas em volta dela naquele momento de conversa com Deus e eis que meu pai tem a primeira atitude de pegar as mãos de todos nós e colocá-las juntas acima do coração de minha tia que partia. Neste momento, nossas mãos e corações eram um único que, mesmo sendo humanamente separados naquele momento, nunca mais sozinhos estariam. Olhei para minha mãe e disse: "Como ela é! Mesmo não estando mais aqui, não deixa de cumprir o seu papel."
Passados os vinte e oito dias, vivemos muitas dores, angústias, solidão, incredulidade, desolação, saudade, tristeza, falta, vazio. Por muitas vezes, nos vieram as perguntas à mente "Porque isso tinha que acontecer? Como será daqui pra frente?"
Ao telefone com minha tia, meu pai falava sobre a preocupação deles com minha avó, sobre a dor dessa mãe que a cada dia é mais evidente e preocupante para nós que a queremos bem e não mensuramos o tamanho desse sentimento. Após palavras de apoio e conforto um ao outro diante de seus relatos de dor de irmãos, antes de desligar, ouço a resposta "Eu também te amo". Palavras nunca dantes por mim presenciadas em se tratando deles.
Uma esperança encheu meu coração e eu pude compreender que quem veio ao mundo com uma missão, jamais deixará de realizá-la, mesmo que nesse mundo já não mais habite.
Minha tia será sempre a nossa união. E eu sou muito grata a Deus e a ela por isso.
Eu amo a minha família! Eu vou amar pra sempre a minha tia!

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