A borboleta, as flores e o mar

E eis que um dia o Grande Jardineiro pegou aquela lagarta triste e machucada e mandou ser borboleta de novo. Depois de tantos momentos vividos, ela não conseguia compreender que sentido teria naquilo. Pra quê ser borboleta outra vez? Voar pra onde? O Grande Jardineiro, como de costume, não respondeu às indagações da borboleta. Apenas lhe mostrou o mar. Ora! Onde já se viu borboleta no mar? Só pode estar louco esse Jardineiro!

Ela já nem se lembra do dia em que metamorfoseou-se pela primeira vez, mas, de fato, já tem experiência nessa vida borboleteante e sabe que mar não é lugar de borboleta.

Mas era o lugar dela.

O Grande Jardineiro mandou que ela voasse até o mais distante que pudesse, se fizesse ao largo e mergulhasse... Mergulhasse bem fundo e trouxesse novas flores para o seu jardim. A borboleta achou loucura, questionou como sempre fizera mas, por fim, mergulhou.

Foi difícil chegar até o fundo. Muitas coisas ela encontrou no caminho que a fizeram pensar em voltar à superfície, mas algo lhe dizia que valeria à pena ir até o fim. E foi.

Buscou, nadou, mergulhou e encontrou vinte e uma novas flores; trouxe todas ao jardim e este ganhou um novo esplendor. Aquele jardim nunca mais será o mesmo. Ganhou novos aromas, novas cores, nova brisa, nova essência. As novas flores chegaram pra trazer nova vontade de viver às flores que ali já habitavam. Não há um que passe por tal jardim sem perceber o brilho novo que há ali. Todos que por ali passam desejam fazer parte desse jardim também e, assim, as novas flores já começam a cumprir o seu papel deixando a borboleta orgulhosa de seu trabalho.

E esta foi a primeira vez que se viu a borboleta chorar.

Não. Ela não chorava de tristeza nem de dor. Não era decepção nem mesmo temor.

O que a borboleta chorava era um choro de amor.

*Esse texto é dedicado a 21 flores que fazem morada no jardim do meu coração.