quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O país das minhas maravilhas


Certo dia, colocaram-me contra a parede. Estava eu divertindo-me com o que é impossível, com as borboletas coloridas que pousam no jardim da minha juventude... E me fizeram parar. Até o presente momento, não me faço capaz de entender tamanha negligência ao falarem-me de algo tão esquisito. Mandaram-me tomar decisões em minha vida. Irei eu receber o matrimônio ou gastar minha economias a fim de adquirir um meio de locomoção de duas rodas que não necessite ser motorizado?
Dizem que é com extrema facilidade que perco o prumo das ideias. Já não me lembro do que falava outrora, entretanto é tão linda aquela borboleta que me chama para bailar ao ritmo de suas asas! Não hesito em acompanhá-la e, a cada passo, me encanto com tão adorável experimento meu.
Devo estar perdendo o juízo, mas parece-me que estou vendo a borboleta contrametamorfosear-se. Pode ser que penses que tal palavra não há. Tampouco existia a ação. Em um repente, aparece-me a lagarta. Esta se parece tanto com uma de que ouvi falar. Diziam que aquela era sábia. A fim de testá-la e ainda encontrar respostas que eu sabia precisar, perguntei-lhe que rumo devo dar em minha vida. Surpreendeu-me ao dirigir-se a mim como menina desprovida de capacidade intelectual. Disse que não eu conseguiria tal resposta sem ao menos saber quem sou. Disse-lhe que sei quem sou. Disse-lhe meu nome. Disse-me ela que estou longe de ser quem digo que sou. Estou ficando confusa. Acho melhor seguir meu caminho. Confesso ter gostado mais dessa lagarta em tempos de borboleta.
Agora, percebo como é diferente este lugar. Posso perceber, de um lado, uma linda natureza. Vejo árvores de caules roxos e folhas rosadas. Quase todas goiabeiras nas quais posso me pendurar, pensar nos meus impossíveis e deliciar-me com seus frutos. Vejo também flores... Orquídeas, copos de leite, lírios, rosas, damas da noite... Todos adquiriram tons lilases e rosados que fazem-nos tontos diante de tanta beleza. Em meio a tal exuberância, posso enxergar um céu de noite estrelada em que estas estrelas estão acompanhadas pela mais bela lua. Posso enxergar tudo isso através de um límpido espelho azul que corre e se renova a cada piscar dos olhos meus.
Em um repente, sou tomada por um frio arrebatador. Volto-me para as minhas costas e vejo um lugar que remetia-me à paisagem do lado oposto. Entretanto, todas as goiabeiras, flores estão cobertos por um gelo seco e imperfurável. A vida que ali havia está petrificada. Petrifico-me.
Eu, parada em um caminho que se encontra entre as duas paisagens, tento entender como vidas tão parecidas podem ter tomado rumos tão diferentes. Mas, antes que eu pudesse terminar meu raciocínio em busca de um culpado para isso, sinto algo tocar meus ombros. Olho para trás e não encontro nada. Olho para o céu e parece-me que as estrelas tranformaram-se em sorrisos. Não há como conter o desejo de repetir o gesto. Ainda assim, sinto que há um sorriso ainda mais próximo de mim do que aqueles presentes nas estrelas. Ao olhar para um de meus ombros, deparo-me com o cão mais sorridente, digo, risonho visto por mim. Pergunto-lhe quem ele é, mas ele responde-me com a mesma pergunta. "Você é o meu eco?""Você é o meu eco?""Quem é você?""Quem é você?" Acho que querem mesmo estar a par desta resposta.
Apesar de achá-lo um pouco irrisório, resolvo seguir na direção à qual aquele eco (ou cão, se preferir) me leva. Parece que ele me leva a outro de minha espécie. Ele usa um chapéu tão grande quanto os seus lindos olhos verdes. Eu gosto dele. Usa as palavras como jamais vira alguém fazê-lo na faculdade de Letras. Pergunta-me qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha. Essa pergunta o acompanha tanto quanto todos aqueles questionamentos sobre a minha vida faziam parte de meus pensamentos.
O dono do chapéu tornou-se meu amigo nessa viagem. Quando o encontrei, estava acompanhado de dois animaizinhos que diziam ser loucos. Além destes, conheci muito outros enquanto passava por esse louvável caminho. Conheci uma rainha e seus súditos, que mais me lembravam minhas partidas de Uno com os amigos da universidade. Encontrei-me ainda com muitos outros que sempre me levam às mesmas perguntas: quem sou eu? o que faço aqui? por quem, para que e por que eu fui criada? como tenho me relacionado com tudo aquilo que está ao meu redor? que rumo devo dar à minha vida? devo seguir adiante nesse caminho ou voltar para trás?
Minha cabeça fervilha. Todos desse lugar são muito simpáticos, mas não vejo sorriso sincero e real em nenhum deles. Todos aqueles que por aqui encontrei dizem-me que eu ajudarei a salvá-los. Como poderia realizar tamanho feito se ao menos sou capaz de responder a tais perguntas que me assolam? Como posso dar rumo à vida de outros sem que o faça em minha própria?
Sinto as lágrimas cobrirem meu rosto. Percebo que estas começam a forrar o chão por onde piso. Ao distrair-me com uma delas, deparo-me com a lagarta novamente. Ao perguntar-lhe o que faz de novo nessa história, ela encoraja-me a cuidar daqueles que conheci. Diz que sou eu a escolhida e que, para isso, basta abrir o Livro dos Sentidos.
A lagarta entrega-me o livro e, como mágica, posso vê-la tornar-se mais uma vez borboleta. Antes que voe para longe, pergunto-lhe como eu posso abrir aquele livro, pois não encontro fechadura. É impossível abrir o Livro dos Sentidos. Partindo, diz dar-me a chave e confiá-la a mim. Diz ainda que eu devo concentrar-me nos meus impossíveis e, assim, perceber que nada é impossível.
Nesse exato momento, começo a lembrar-me daqueles impossíveis com os quais eu costumava adoçar meu tempo: eu vejo uma borboleta voltar a ser lagarta; cães podem sorrir e desaparecer; eu sou uma escritora; eu me conheço bem; eu posso abrir o Livro dos Sentidos.
Não sei de onde veio, mas uma força fez com que, num repente, eu abrisse aquele livro. Trata-se de um livro com muitas páginas, mas aquela que se abre para mim diz: "O sentido da vida está no amor. Através de você, o AMOR vencerá!"
Se essa história tem um fim, eu ainda não sei contar-lhes. O que sei é que aprendi a dar sentido a ela e a conduzí-la através do amor.

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